02/12/16

Ocupações... o que temos a dizer aos estudantes?



Fotografia presente na matéria: TUDO sobre a greve e as ocupações nas escolas. Disponível: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/tudo-sobre-a-greve-e-a-ocupacao-nas-escolas-do-parana-b6t39taw4sm8yw0yq4l8q379u Acesso em: out. 2016.



           "Aquele que não luta pelo futuro que quer deve aceitar o futuro que vier", esse era o anúncio provocativo que estava na parte central do portão que figurou a matéria do Jornal Gazeta do Povo, em outubro de 2016. Essa imagem, utilizada para compor as formulações do periódico sobre o episódio em pauta, motivou-nos a outras indagações.
            Após a ebulição das ocupações de secundaristas e universitários da rede estadual de ensino do Paraná, consideramos que era preciso querer mais do que anunciar "tudo sobre" esse evento ou destacar sua irrupção na rotina ordinária, como fez grande parte da imprensa. Por isso, interessou-nos explorar o que esse panfleto fixado no portão nos oferece como sugestão de reflexão: o que nós temos a dizer sobre as ações e aspirações anunciadas pelos estudantes? Como nossas discussões em sala de aula permitem acessar a realidade social da qual fazemos parte? Nossa prática provoca que sentimentos e ações?
            Tanto na Educação Básica quanto nas Universidades paranaenses houve um clamor para que a recorrente tentativa de naturalização das fragilidades que assolam o ensino público fosse exposta e enfrentada, inclusive, perante os interesses e expectativas dos estudantes e não só dos profissionais da educação. As incongruências – que percorrem as salas de aula ao atravessar portões como o exposto na matéria jornalística – não se limitam a uma reforma da estrutura física ou custeio das instituições públicas de ensino, itens estruturalmente deficitários e essenciais para a sustentação do processo de ensino e aprendizagem. Falamos também e, fundamentalmente, das condições materiais para produzir conhecimento e em que termos elas vêm sendo discutidas e anunciadas enquanto política pública e se distanciado da almejada "função social".
             No interior de muitos desses portões, a execução de corroídas políticas públicas distanciam o tão sonhado "ensino público, gratuito e de qualidade", fortalecendo a disputa de sentidos sobre o papel da escolarização na vida dos sujeitos sociais que ali estão e nas prospecções de futuro que visualizam para si e para os seus. Precisamos debater os confrontos diretos e implícitos sobre a manutenção das licenciaturas e da prática docente, levando em conta que subjugar o ensino público do nosso país espelha não só divergências em relação ao papel da escolarização, mas traz à tona um abismo de desigualdades, produzido e revigorado frente aos interesses que se colocam como sustentação dessas dissidências.
            O convívio nas instituições de ensino público expõe uma correlação de forças tensionada por projetos extramuros. Chama a atenção, a tentativa de determinar (como "cumpra-se") a que serve o ensino público atual, propondo delimitar os conteúdos curriculares a efetivar, estabelecer limites para o papel do professor na docência e salvaguardar a "positividade" da expansão da formação técnica para o trabalho nas escolas públicas. Esses elementos exigem de nós mais do que apenas "observar e absorver" as proposições governamentais ou mesmo as relações estabelecidas diante das ocupações estudantis.
       O confronto dos últimos tempos exercitou relações de poder desiguais, em espaços de escolarização pública de uma parcela significativa da população brasileira. Trouxe a contestação como ponto de encontro e difusão de uma realidade há muito conhecida pelas famílias de trabalhadores desse país. Por isso, longe de ignorar as marcas da desigualdade que se consagram no ensino público, ressaltamos tais evidências por acreditar ser um espaço que vale a pena disputar, por querermos mais do que o que vier...
            Pensar essa realidade é sinal de preocupação com o futuro; é preocupar-se com o futuro de todos nós... Afinal, isso diz muito sobre o que queremos em sala de aula e o que temos a dizer aos estudantes das instituições públicas de ensino...


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