Fotografia presente na matéria: TUDO sobre a
greve e as ocupações nas escolas. Disponível: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/tudo-sobre-a-greve-e-a-ocupacao-nas-escolas-do-parana-b6t39taw4sm8yw0yq4l8q379u
Acesso em: out. 2016.
"Aquele que não luta pelo futuro que quer deve
aceitar o futuro que vier", esse era o anúncio provocativo que estava na
parte central do portão que figurou a matéria do Jornal Gazeta do Povo, em
outubro de 2016. Essa imagem, utilizada para compor as formulações do periódico
sobre o episódio em pauta, motivou-nos a outras indagações.
Após a ebulição das ocupações de secundaristas e
universitários da rede estadual de ensino do Paraná, consideramos que era
preciso querer mais do que anunciar "tudo sobre" esse evento ou
destacar sua irrupção na rotina ordinária, como fez grande parte da imprensa.
Por isso, interessou-nos explorar o que esse panfleto fixado no portão nos
oferece como sugestão de reflexão: o que nós temos a dizer sobre as ações e
aspirações anunciadas pelos estudantes? Como nossas discussões em sala de aula
permitem acessar a realidade social da qual fazemos parte? Nossa prática
provoca que sentimentos e ações?
Tanto na Educação Básica quanto nas Universidades
paranaenses houve um clamor para que a recorrente tentativa de naturalização
das fragilidades que assolam o ensino público fosse exposta e enfrentada,
inclusive, perante os interesses e expectativas dos estudantes e não só dos
profissionais da educação. As incongruências – que percorrem as salas de aula ao
atravessar portões como o exposto na matéria jornalística – não se limitam a
uma reforma da estrutura física ou custeio das instituições públicas de ensino,
itens estruturalmente deficitários e essenciais para a sustentação do processo
de ensino e aprendizagem. Falamos também e, fundamentalmente, das condições
materiais para produzir conhecimento e em que termos elas vêm sendo discutidas
e anunciadas enquanto política pública e se distanciado da almejada "função
social".
No interior de muitos desses portões, a execução de corroídas
políticas públicas distanciam o tão sonhado "ensino público, gratuito e de
qualidade", fortalecendo a disputa de sentidos sobre o papel da
escolarização na vida dos sujeitos sociais que ali estão e nas prospecções de
futuro que visualizam para si e para os seus. Precisamos debater os confrontos diretos
e implícitos sobre a manutenção das licenciaturas e da prática docente, levando
em conta que subjugar o ensino público do nosso país espelha não só
divergências em relação ao papel da escolarização, mas traz à tona um abismo de
desigualdades, produzido e revigorado frente aos interesses que se colocam como
sustentação dessas dissidências.
O convívio nas instituições de ensino público expõe uma
correlação de forças tensionada por projetos extramuros. Chama a atenção, a tentativa
de determinar (como "cumpra-se") a que serve o ensino público atual,
propondo delimitar os conteúdos curriculares a efetivar, estabelecer limites
para o papel do professor na docência e salvaguardar a "positividade"
da expansão da formação técnica para o trabalho nas escolas públicas. Esses elementos
exigem de nós mais do que apenas "observar e absorver" as proposições
governamentais ou mesmo as relações estabelecidas diante das ocupações
estudantis.
O confronto dos últimos tempos exercitou relações de
poder desiguais, em espaços de escolarização pública de uma parcela
significativa da população brasileira. Trouxe a contestação como ponto de
encontro e difusão de uma realidade há muito conhecida pelas famílias de
trabalhadores desse país. Por isso, longe de ignorar as marcas da desigualdade
que se consagram no ensino público, ressaltamos tais evidências por acreditar
ser um espaço que vale a pena disputar, por querermos mais do que o que vier...
Pensar essa realidade é sinal de preocupação com o
futuro; é preocupar-se com o futuro de todos nós... Afinal, isso diz muito sobre o que queremos em sala de
aula e o que temos a dizer aos estudantes das instituições públicas de ensino...
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